Children’s Corner
Vista da exposição,  "Children's Corner"
"Brotinho", 2017  
Vista da exposição,  "Children's Corner"
"Alpinia", 2017  
Vista da exposição,  "Children's Corner"
Renata Egreja Galeria 2 - 1º e 2º andar de 23.08.2017 a 21.10.2017
1 2 3 4 5

Babilônia Mutante

Esse é nosso espaço de arte agora, onde impreterivelmente, as paredes são brancas. Pudera! O que precisa ganhar relevo são as expressões artísticas em diferentes suportes, impassíveis diante da contemplação humana, envoltas em suas próprias existências. Como um nervo óptico dando as informações através das obras esculturas e aquarelas do Barrão, na galeria 1, das obras pinturas e aquarelas da Renata Egreja, na galeria 2 e finalizando essas informações visuais são captadas na sala pensando com o Alexandre Sequeira os seus trabalhos de antropologia social e com pitadas de poesia e emoções que brotam com mais força nas interferências sensíveis do artista. Com essa visão a luz se projeta em objetos com resultados de forma, cor, tamanho, distância e espaço. Como na vida real que busca romper paradigmas da arte. Estamos vivendo uma época de rupturas que estão transformando o mundo numa velocidade nunca antes experimentada. Nessa atmosfera de incertezas (ou certezas) o fundamental é acreditar. É fazer!

Pelas leis da física, energia é uma propriedade que os objetos têm de transferir algum tipo de impulso à outros objetos por diferentes modos, como na exposição Re-, Barrão refaz todo organismo vivo que requer alguma forma de energia e que pode vir de várias fontes e origens em suas esculturas.

Já as pinturas de Renata Egreja recebe impulsos energéticos ritmado pela dança, emitidos pelo cérebro, este órgão estranho que habita nosso corpo. Essa força que nos leva a pensar, refletir, temer, ver, ouvir, falar, imaginar, sentir, analisar, cantar e criar. Isso significa olhar arte. Forças estranhas nos movem. E isso é bom!

Wilson Lazaro

Vista da exposição,  "Children's Corner"
"Brotinho", 2017  
Vista da exposição,  "Children's Corner"
"Alpinia", 2017  
Vista da exposição,  "Children's Corner"
1 2 3 4 5

Wilson Lazaro Na visita realizada em seu ateliê/casa, foi possível compreender um pouco a natureza existente em sua pintura, considerando que você habita um espaço cercado por essa natureza. Sinto que esse lugar que você habita tem relação com as cores, formas e temas utilizados na sua pintura, e ao mesmo tempo noto uma presença do decalque, como se duas linguagens estivessem em sintonia, a aquarela e o decalque. E ainda, tem o ritmo musical que dá movimento ao trabalho. De que forma essas técnicas estão presentes na construção de sua obra?

Renata Egreja A natureza é uma grande inspiração para minha pintura. As formas das flores, bulbos e folhas são retratadas nas minhas obras. O decalque ou a utilização de mascaras servem sobretudo para delimitar essa paisagem exuberante e sensual.

O expectador é colocado frente a uma grade que representa o limite onde não é possível penetrar. Essas grades estabelecem esse campo entre pintura e realidade. É como se dissessem: aqui começa um mundo pictórico e não é permitido entrar, mas você pode navegar seu olhar onde quiser. É a contemplação mesmo. Minha pintura é de contemplação e movimento. Daí a relação com a musicalidade.

Já nas obras em aquarela é proposto uma relação mais intima porque geralmente ela te convida a aproximação, já as pinturas grandes em tela normalmente o expectador se afasta para observa-las então a relação é mais afastada. Acredito que esta seja a principal diferença desses meios no caso do meu trabalho. Visto que tecnicamente trabalho de modo muito similar essas duas propostas.

 

WL Considerando o universo feminino, foi possível, em minha experiência atual, notar que algumas artistas que se tornaram mães recentemente, trouxeram essa referência materna para a construção e inserção da relação direta com os filhos em seu processo criativo, como se houvesse uma continuidade de gestação ou uma nova maneira de gerar. Você considera isso fenômeno visível? E isso seria uma possibilidade de se arriscar mais na pintura?

RE A maternidade é um portal. Um grande rito de passagem, e deixa rastros. Tive que reaprender a me organizar, a me reconhecer como um novo ser humano. É claro que a experiência de pintura acompanha isso. Mas exige tempo… Uma das obras que iriam vir para essa exposição ficou tão confusa que eu não aguentava mais olhar para ela. E minha cabeça, minha vida assim estavam. A experiência materna exige isso, reorganizar-se de outra maneira. Minha pintura é muito instintiva, então isso fica demasiado evidente. Percebo que a maternidade por si só já é um grande risco. No parto achei que iria morrer de verdade, então levo essa energia para meu trabalho também.

O puerpério é maravilhoso e potente, além de ser um grande desafio é também um potencializador criativo. Essa exposição retrata lindamente meu segundo puerpério e é uma mostra de transição, estou saindo de pinturas extremamente carregadas de verbos pictóricos para uma leveza que eu não tinha domínio, mas já aparecia em algumas obras de 2014.

As mulheres faziam enxovais, bordavam, costuravam para os filhos que nasciam. Eu faço pinturas. E elas me ajudam a me reconstruir pós maternidade, a me reconhecer nessa nova mulher. Pintar é um ato de autoconhecimento super potente.

 

WL As relações de luz (solar) que aparece uma pintura circulando no espaço e tempo, uma pintura que parece apresentar dois tempos. Sabe-se que existe uma diferenças entre Arte decorativa e decoração. Você acha que as pessoas conseguem compreender o que é arte decorativa no Brasil? Como foi a experiência dentro dessa temática quando você estudou École des Beaux-Arts de Paris, O que isso representou e representa para você?

RE Eu não sei se as pessoas conseguem ou não compreender essa diferença. Mas percebo a sensibilidade estética brasileira muito ligada ao barroco, a ornamentação e a dramaticidade. Na minha pintura eu exploro esses canais. Desde minha formação, até bem antes, na minha infância mesmo eu já vivia num lugar onde a vontade decorativa era imensa. Guardo lembranças estéticas muito fortes de como a natureza era caprichosa e exuberante. Cresci num sitio no interior de São Paulo e esse lugar é muito convidativo a contemplação. A formação em Paris me ajudou a ganhar consciência do processo e saber verbalizar minhas intuições. A partir daí minha pintura ganhou mais corpo. A cor virou atriz principal. Foi nessa época que o movimento e o gesto tornaram se muito presentes nas minhas obras. O contato com o movimento suporte surface dos anos 60 na França me impactaram muito. Lembro de uma exposição do Cloude Viallat que vi na galeria Claude Bernard em Paris, eram panos dobrados pintados e depois desdobrados e a pintura acontecia ali, naquele tempo entre o gesto. Isso é muito bonito!

Na minha pintura a intenção é seduzir tal qual um jardim ou uma passista emplumada e brilhante. Com movimento e cor.

Sobre ser decorativo ou não, eu acho esse discurso completamente sem sentido. Uma vez visitei a casa de um colecionador e ele tinha uma pintura de Kazimir Malévich no banheiro. Absolutamente qualquer coisa pode ser decorativa. Que aliás se analisarmos a palavra, e eu adoro etimologia, decoração vem de decorum, dela saem decoro que está mais ligado com a ideia de ser bonito por dentro, ser honrado e ser bom. Interessante pensar que a beleza e o bem estão intimamente ligados.

 

WL Ao se deparar com o seu trabalho, num primeiro momento e em uma leitura rápida e óbvia, alguns espectadores tendem a comparar sua pintura com a artista Beatriz Milhazes, e sabemos que são pinturas distintas, pois o que percebo é que você desenvolve um trabalho com uma desconstrução emocional ritmada, dentro de um jogo de explosões de cores em movimento, enquanto a Beatriz realiza uma pintura sistemática e estruturado. Como você pontua essa “comparação” e essa referência na sua trajetória artística?

RE Acho que tanto minha pintura quanto a da Beatriz Milhazes tem uma vontade muito grande de sedução. São pinturas onde a intenção pictórica é bem ornamental. E a cor é presente de maneira bem exuberante. Embora a lógica compositiva seja muito diferente ambas tem uma vontade muito grande de construção. Isso é muito presente na arte brasileira de modo geral. Eu penso que na história da arte são criadas espécies de famílias agrupadas esteticamente numa estrutura de hierarquias geracionais. Nesse caso vejo a Tarsila do Amaral como minha avo, a Beatriz como minha mãe, Sonia Delaunay como minha bisavó, Claude Viallat meu avô, Dominique Gauthier meu pai, Jessica Warboys minha irmã e por ai vai. Me sinto muito próxima de algumas dessas pessoas sem mesmo as conhecer…

 

WL Observando sua pintura e aquarelas, é possível notar uma presença constante que parece abranger a temática do feminino, exatamente em um momento onde uma nova leitura das questões em torno do feminismo são abordadas e representadas na sociedade e no fazer artístico. Você considera que seu trabalho se apropria de questões políticas em torno da mulher e do seu papel no contexto atual? E como você se posiciona frente a isso?

RE Se pensarmos que na escola onde estudei em Paris, as mulheres só começaram a entrar nos ateliês como estudante em 1900, antes disso frequentavam a Ecole somente para posarem nuas. Acredito que ainda estamos conquistando espaço e direitos iguais aos dos homens. No campo das artes a predominância ainda é masculina, ainda hoje em qualquer livro de arte contemporânea a maioria dos trabalhos é de homens. Me vejo trabalhando para ampliar esse espaço. Minha pintura é feminina, é sensual e sem tabu.