Não uma, mas duas pessoas
Site specific na exposição  "Não uma, mas duas pessoas"
Vista da exposição,  "Não uma, mas duas pessoas"
Vista da exposição,  "Não uma, mas duas pessoas"
"Les Demoiselles d'Anvers (Um)", 2018  
"Les Demoiselles d'Anvers (Outro)", 2018  
Vista da exposição,  "Não uma, mas duas pessoas"
Joana Cesar Galeria 1 - 1º andar de 21.03.2018 a 30.06.2018
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Tudo se ilumina

Começando 2018, vamos celebrar com três novas exposições individuais, três novas apostas (certas) e três novas direções… o nosso calendário promete muitas surpresas!

A vida não tem um (só) sentido, nem arte tem uma (só) direção.

A experiência da arte é algo muito especial e multissensorial.

São tantos os diálogos, tantas as vivências. São tantas as transformações com arte, muitas possibilidades de aprender sobre os novos conceitos da vida para renovar o tempo da criação, muitas possibilidades de percorrer, sobre as linhas, os percursos dos sonhos.

Queremos surpreender seu olhar com essas 3 exposições individuais dos artistas: Luiz d’Orey, Joana Cesar e Gilson Rodrigues. Eles fazem uma viagem, cada um a seu tempo, em que o belo, o virtual e o real estão efetivamente presentes, trazendo o novo sentido que estamos sempre buscando na arte. Há um desejo concreto e uma obra estruturada e bem realizada em cada um desses bons artistas. Vale olhar e descobrir!

Com obras de múltiplas narrativas e referências, são trabalhos em que nada é o que parece. Com olhar às vezes sádico, às vezes sinistro, às vezes sedutor, às vezes poético, por vezes luminosos e de tantas outras formas, são três artistas que apresentam uma releitura particular da arte brasileira. Eles têm trajetórias e processos criativos diferentes, cada um desses artistas e suas mãos divinas criam obras que praticamente os elevam ao panteão reservado às divindades. Ao entrar em nosso espaço expositivo, uma explosão de luz e qualidade refletem as boas obras de arte!

Vale conferir a exuberância do novo nessas obras. Começamos bem o ano, celebrando os sentidos!!!

Wilson Lazaro

Site specific na exposição  "Não uma, mas duas pessoas"
Vista da exposição,  "Não uma, mas duas pessoas"
Vista da exposição,  "Não uma, mas duas pessoas"
"Les Demoiselles d'Anvers (Um)", 2018  
"Les Demoiselles d'Anvers (Outro)", 2018  
Vista da exposição,  "Não uma, mas duas pessoas"
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Wilson Lazaro Você cria códigos, criou uma cartografia na rua. Quando entra para mostrar sua obra dentro da galeria isso muda. Há uma espécie de deslocamento de ideias, porém o viés poético está sempre presente. Vamos lá, seu trabalho tem alguma temática?

Joana Cesar Vejo a rua como um suporte, e o trabalho começa quando penso qual o tipo de suporte que usarei. Se a escolha do suporte muda, é natural que o trabalho também passe por algum tipo de mudança. Quando o trabalho foi para uma galeria de arte, entendi que a rua precisava ir junto de algum modo, agora deixando de ser o suporte e passando a ser parte dos materiais que eu uso. A temática do trabalho sempre foi a tentativa (quase sempre frustrante) de fazer leitura das regiões/mapas de dentro aonde textos e visualizações não acontecem facilmente. É um mergulho para o lado de dentro.

 

WL Quem são seus ídolos no mundo da arte, da poesia e da música? Yoko Ono, Louise Bourgeois, Mira Schendel, Eliane Duarte, Ana Mendieta Ana Cristina Cesar, Clarice Lispector, Ruth Rendell, Patricia HighSmith, Adelia Prado. Escutem Numinor, de Jan Garbarek e Keith Jarret. Que influência eles têm na finalização da sua obra?

JC Todos eles tiveram e ainda tem grande influência em meu trabalho. Não é uma influência pontual, mas algo que se estica no tempo. São presenças na minha vida, quase como entidades. Escreveram livros que releio, disseram frases que estão impressas em papéis pendurados nas paredes do meu ateliê, compuseram músicas que escuto até hoje.

Eliane Duarte, quando eu tinha uns 20 anos de idade e vivia em plena angústia por não ser uma figura adaptada ao que se esperava de mim, disse: Joana, acredite. Não sei muito bem o que aconteceu a partir dali, mas essa pequenina frase composta por uma única palavra deslocou alguma coisa importante dentro de mim, e por isso sou grata. Ana Cristina é minha prima distante. Quando criança queria ser escritora, publicar livros, e a presença dessa prima famosa, poeta importante, me deu coragem para escrever meus pensamentos, ainda que depois fosse ocultá-los. Louise Bourgeois trabalhando sobre a questão da casa, da família, diz: “Não posso falar sobre estilo em termos gerais.

Só posso falar sobre o meu, e meu estilo é inteiramente ditado pela vida que levo. Quer dizer, pelo que faço e enfrentei muitas dificuldades para fazer. É ditado por quanto sou capaz – esse é o perigo – quanto sou capaz de me privar. Em outras palavras, estilo tem a ver com limitações e temo que precisemos falar de disciplina. Vocês são feitos, são forjados por aquilo a que conseguem resistir e por seus fracassos. Meus estilo, minha maneira de trabalhar, vem de todos os fracassos, todas as tentações a que resisti, toda a diversão que não tive, todos os arrependimentos. O estilo é como uma estátua que é lapidada – é feito de todas as coisas das quais você abdica. Todas as coisas que você deseja intensamente e as quais diz não”.

 

WL Durante sua infância, já existia esse desejo de ser artista visual? Quem foi o primeiro artista do qual você se lembra de ter ouvido falar e que a influenciou (ou influencia) até hoje?

JC Minha mãe, Teresa. Morávamos num sítio no subúrbio do Rio de Janeiro, e nesse sítio minha mãe tinha um galpão que era um ateliê de pintura. Pintava telas grandes com tinta acrílica, pintava mãos enormes, suas veias azuladas e pele muito branca. Essas mãos estão presentes no meu trabalho. Hoje eu fotografo minhas mãos segurando objetos que entrarão como representações no trabalho. Essas ampliações eu rasgo, e muitas vezes uso pequenos pedaços de papel bege no meio da pintura. Esse bege é a cor da minha pele. Na pintura ninguém consegue ver que ali está a minha mão, ou parte dela, mas eu sei que ela está lá, representando essa mão maternal.

 

WL Como você vê sua obra no contexto da arte contemporânea atual?

JC Entendo que arte contemporânea exige mais profundidade, vigor, coragem, e menos academicismo dos artistas. Não há possibilidade de desenvolver um trabalho de arte sem se lançar no precipício. Me identifico com a produção de muitos artistas contemporâneos, apesar do resultado estético diferente. Essa identificação revela o reconhecimento de uma espécie de terreno parecido aonde se pisa, ou fio condutor pelo qual se transmite a energia da produção. É como se o resultado do trabalho não fosse a coisa mais importante, mas apenas uma pontuação, ou pausa, do processo.