Barulho
Vista da exposição,  "Barulho"
Vista da exposição,  "Barulho"
Vista da exposição,  "Barulho"
"Sem título", 2016  
Vista da exposição,  "Barulho"
Felipe Fernandes Galeria 2 - 1º e 2º andar de 25.04.2017 a 24.06.2017
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Bons ares, ares bons…

Com essa ideia de frescor, o ano começa.

Existem alguns lugares em que a arte é o objeto de interesse principal e vale, por si, a viagem. Alguns buscam reproduzir com arte contemporânea esse antigo espírito, que combina arte como forma especial ao desfrutar o olhar, através do desejo e do belo.

Nas pinturas apresentadas na dotArt galeria, os artistas Felipe Fernandes e Lívia Moura se conectam e transformam a experiência da arte pela vivência do espaço, criando um universo pictórico de poesias e formas.

Vale sonhar!

É uma pintura pensada, construída e realizada sobe uma arquitetura do gesto e da experiência, que não é estática e posiciona o espaço dentro da dimensão do tempo, imprimindo movimento à matéria, um apelo sensorial dessa pintura atual que está sempre incorporada pela cor e pelas formas. A tela é a morada desse gesto em momentos tão intenso, em contextos tão austeros. Delicado ou não, colorido ou não, tudo se resume numa boa e sedutora pintura. Esse é o sentido

Apresentamos na Sala Pensando um trabalho de Vídeo da artista Regina Vater. Green ou o sinal verde para o saque das Américas. Trata-se de uma compilação de imagens criadas a partir de pouco recursos técnicos por se tratar do ano de 1991. Sua produção inclui vídeos, mail-art, livros de artista e poesia visual.

Trabalhos delicados ou não, coloridos ou não, tudo se resume numa boa e sedutora obra. Esse é o sentido!

Quem sabe seja esse o novo sentido que estamos buscando.

Wilson Lazaro

Vista da exposição,  "Barulho"
Vista da exposição,  "Barulho"
Vista da exposição,  "Barulho"
"Sem título", 2016  
Vista da exposição,  "Barulho"
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Wilson Lazaro Olhando sua pintura, tive uma boa sensação, meus olhos brilharam … Que tipo de narrativa você costuma estruturar para uma tela em branco? Qual o seu desejo inicial na hora de criar? Você consegue chegar onde quer em sua criação? Qual é o resultado final na sua criação? Sinto uma pintura renovada e intensa e cheia de sentimento, estou certo?

Felipe Fernandes Como não uso estudo ou referência fotográfica pra começar um quadro, eu acabo não estruturando muito meus trabalhos. Geralmente inicio uma tela fazendo formas ou manchas simples que vão me sugerindo caminhos pra seguir. Muitas dessas formas acredito que venham de desenhos que costumo fazer nos meus cadernos.

Sempre procuro por uma pintura onde eu consiga tomar decisões que não me façam pensar muito e que ao mesmo tempo consiga se comunicar de uma forma rápida e direta com quem está vendo. Procuro não ser muito consciente sobre o meu próprio trabalho, acho que acabo preferindo me apoiar em algum tipo de sensibilidade ou intuição.

Houve um período em que eu achava que tudo que eu vinha pintando lembrava uma tela do pintor inglês Wiliam Turner. Na verdade eu nunca tentei me aprofundar na obra dele, tudo que tenho é uma imagem mental formada por meia dúzia de reproduções de quadros de naufrágio que eu vi em livros. Pra mim suas pinturas tem um carga de drama infinita.

 

WL Você é assistente do pintor bastante conhecido, Luiz Zerbini. Achei muito interessante que na sua pintura, você consegue fugir da escola Zerbiniana, já que ele está influenciando muitos artistas atualmente… Isso me despertou uma curiosidade, vejo que você segue majestosamente o seu caminho. Como é conviver entre essas duas criações presentes no seu percurso?

FF Eu provavelmente fui muito influenciado pelo trabalho dele, por ter acompanhado o seu processo de criação tão de perto, apesar de ser difícil pra mim dizer o quanto ou onde está essa influência de forma clara. Acho que o que mais aprendi no seu atelier foi como lidar com questões e problemas que são inerentes ao processo de qualquer pintura, por mais diferentes que elas sejam visualmente. Acho que nunca mais vou ter essa experiência de uma familiaridade tão grande com o pensamento e o processo de outro artista.

Admito que algumas raras vezes enquanto pintava no meu atelier me vinha o pensamento “Isso parece uma pintura do Zerbini?”. Pensamento que eu procurava matar na hora.

 

WL Dentro das escolas e dos movimentos atuais da arte, como você vê e sente sua pintura. Qual sentido que você gostaria de traçar na sua obra? Consegue ter isso de forma clara? Já que estamos vivendo momentos de mudanças sempre, arte faz o caminho da metamorfose, Isso acontece com você?

FF É difícil pra mim e acredito que também para muitos artistas, encaixar meu trabalho em algum movimento agora, porque acho que é necessário um distanciamento histórico pra isso. Eu sempre gostei de uma ideia romântica de movimento artístico em que um grupo de artistas define um discurso e um parâmetro para produção de todos que fazem parte dele. Ter um limite externo ao que você mesmo impõe ao seu trabalho sempre me pareceu algo libertador. Acho que isso acaba preenchendo uma lacuna ideológica que não se consegue alcançar trabalhando sozinho e comprometido exclusivamente com questões pessoais e internas.

Outro dia conversando com dois amigos meus que também são pintores, Rafael Alonso e Elvis Almeida, falei do Movimento Armorial com a empolgação de quem acabou de descobrir algo novo. Eles deixaram a entender que eu estava pensando sobre essa relação do artista com os seus pares de um jeito meio ingênuo. Talvez pensar num movimento artístico dessa forma seja algo meio anacrônico mesmo.

Não consigo ver de forma clara que curso meu trabalho vai seguir, mas procuro me associar a outros artistas que tb pensem de forma mais intuitiva e menos projetual.

 

WL Acredito que o universo da arte ainda é bem machista, principalmente na pintura, considerando que na academia temos várias mulheres porém no mercado os homens regem essa partitura, Qual seu posicionamento frente à  essa questão?

FF Acho que o mercado de arte reflete a mesma estrutura de qualquer outro mercado onde há uma maioria de homens. Não existe outra posição que não seja ser a favor da igualdade e da representatividade. O machismo é algo tão naturalizado que muitas vezes passa despercebido por mim, talvez pelo fato de ser homem. Acredito que esse desequilíbrio está se tornando cada vez mais evidente e que curadores e organizadores estão atentos a isso no momento de compor coletivas e afins, algo que vejo acontecer gradualmente.

Quando comecei a estudar pintura no Parque Lage fui muito influenciado por uma artista chamada Carla Einloft. Ela possuía uma espontaneidade e uma intuição que eu admirava muito e rapidamente quis tomar pra mim, por algum motivo associava essas características ao feminino. Tenho uma boa lembrança dessa época, pois eu vinha seguindo um caminho muito baseado no rigor e na técnica.

Gosto de acreditar que o mercado eventualmente abre espaço para o que é verdadeiro e comprometido.